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Futebol de formação: "profecia que se auto-concretiza"

Ando a ler o livro "Outliers" de Malcom Gladwell, e há um conceito que me chamou particular interesse! Gladwell chama-lhe "profecia que se auto-concretiza" ou "Efeito Mateus"! Analisada ao pormenor, enquadra-se no Futebol e na formação que nem uma luva! 

Lesões são 7x superiores em atletas atrasados maturacionalmente!

          No primeiro post do blog (75% dos atletas da cantera do Barcelona nasceram nos 1ºs meses do ano - clicar aqui) ficou claro a importância que a maturação biológica tem para os grandes clubes formadores, muito devido ao desenvolvimento físico que ocorre neste período. Pois bem, o interesse por atletas avançados maturamente pode não residir apenas a essas alterações físicas!
Segundo um estudo longitudinal lançado ainda este ano, atletas mais avançados a nível maturacional têm uma prevalência de lesões 7 vezes menor antes do pico de velocidade da altura (PVA). No ano do PVA, este valor desce para aproximadamente 2.5. O PVA é um dos melhores indicadores de maturação biológica.


Fica então claro que é nestas idades (entre 11 e os 15) que o treinador possui uma tarefa mais árdua. Não só por estar a interagir com crianças a passar por uma fase complicada mas também porque dentro de um mesmo grupo de 20 atletas podem estar adultos formados biologicamente e atletas que ainda não sofreram o take-off, ou seja, mais atrasados maturacionalmente.

Além disso, ainda segundo o mesmo estudo, parece haver uma maior susceptibilidade à lesão entre os 13.5 e os 14.5 anos.

Atenção treinadores à intensidade de treino que dão aos atletas! Apesar de serem do mesmo escalão, podem ser completamente diferentes biológicamente!

Southampton - Potencial into Excellence

       Um documentário brilhante sobre os Saints. A formação como principal valor do clube e uma estrutura baseada na formação na procura do seu lugar na Europa!

O documentário em si é brilhante, mas três pontos captaram a minha atenção: Host Familys, a proximidade entre escalões séniores e de formação e a aposta no Markus Libherr Pavilion.

Chelsea - A definição nos papéis na formação mas com liberdade!

        Interessante ver que o Chelsea FC tem estritamente definido a função de cada jogador, de cada posição em campo. As filosofias de jogo estão desde cedo definidas e vão sendo incutidas ao longo dos anos de formação. Formar segundo um modelo, formar para um modelo! 
             
             De destacar que têm definido quais os dias em que treinam determinada componente física (velocidade, força, resistência). Além disso, o "Let'em Play", no sentido de deixar os jogadores tomar as decisões, decidir por eles mesmos em vez da decisão caber ao treinador. Formar sim, para um modelo, sim, mas com liberdade de decisão!







Dormir mais para ter menos lesões!

           O “dormir bem” assume-se cada vez mais como um fator preponderante na recuperação física e psicológica dos atletas após competição e treino.

Sabe-se que distúrbios no sono são um dos sintomas do overtraining por exemplo. Até se fala da posição de dormir ter influência nos padrões de desenvolvimento motor em idades jovens. As horas de sono até são um dos fatores mais importantes da recuperação física dos atletas. Mas do que venho falar hoje é da relação entre as horas de sono e a ocorrência de lesões nos jovens atletas.

Segundo um estudo de 2014, jovens atletas que durmam menos de 8 (oito) horas, têm uma probabilidade da ocorrência de lesões superior em 1.7 dos atletas que durmam 8 horas ou mais. Hoje saba-se também que as horas de sono têm vindo a diminuir ao longo dos últimos anos. O uso de aparelhos electrónicos na hora antes de se deitarem parece ter influencia e dificultar o adormecimento. Por isso, alertem os vossos atletas da importância do sono, do "dormir bem" e relembrem-nos dos problemas que o uso de aparelhos electrónicos antes de dormir podem trazer.


Há que mudar, e a mudar, que seja para melhor!

        "Nós pensavamos: somos os melhores, não precisamos de aprender com ninguém, tudo o que se passa à nossa volta não interessa. E estavamos errados!"  "Nem Pep Guardiola, nem José Mourinho, nem Jupp Heynckes conseguem alterar alguma coisa na sua Selecção! Vocês não têm de mudar a Selecção, têm de mudar o seu futebol!" "Não basta mudar os miúdos de 17, 18, 19 anos, há que começar com os mais novos, 12, 13 anos!" "Qualquer selecção nacional é tão forte quanto mais forte for o campeonato do seu país". Paul Breitner


Futebol de Formação em Portugal

Cada vez mais se fala da aposta na formação a nível nacional, na política de redução de custos e no "futebol sustentável". A verdade é que, para além dos talentos, é necessário que os quadros competitivos, os escalões de formação e o treinador de formação sejam adequados. E adequados é tudo o que estes três componentes da formação de futebolistas não são, em Portugal.

           No que toca aos escalões de formação, apesar de difícil de resolver, está claro que há problemas a nível da maturação biológica dos atletas. Basta analisarmos o Barcelona. Não será por acaso que 75% dos jogadores desta cantera nasceram nos primeiros seis meses de cada ano. As diferenças ao nível da maturação são tão elevadas e variam tanto em curtos espaços de tempo que, fazem com que os mais desenvolvidos sejam os escolhidos. Se em meses, as diferenças são tão notórias, imaginem agora em dois anos, normalmente o tempo que cada escalão abrange.


A solução para este problema é bem complexa! Poder-se-ia optar por uma avaliação da maturação dos atletas, e classifica-los em escalões quanto a isso mas o tempo e os custos seriam elevados. Poder-se-ia reduzir a abrangência de cada escalão etário, talvez a melhor opção, o que reduziria as diferenças de maturação, que, é o que muitos clubes vão fazendo ao usarem equipas por ano de nascimento em vez do escalão (Equipas de atletas de 2001, 2002, etc). Porém, continua a ficar claro que, ao nível dos escalões de formação ainda há muito trabalho a ser feito.


Ao nível dos quadros competitivos, os problemas são enormes. Há dias, numa acção de formação com o coordenador de uma das melhores escolas de formação a nível nacional, este foi o tema principal! A qualidade dos jogos que encontram, a intensidade que os seus atletas precisam de por em cada partida, os resultados avultados que se veem todas as semanas e a diferença com o nível estrangeiro ("Cá somos os donos do galinehiro, lá somos frangos depenados"). Ficou claro que a competição ao nível interno era mínima, possuíam dois, no máximo três equipas por série que lhes tornassem o jogo num confronto, numa verdadeira competição, coisa que não assistiam durante o resto da época. Atualmente, este é o cenário que se encontra em Portugal para as grandes equipas formadoras. Seis jogos por época onde os seus jogadores podem ser realmente testados.
                Por um lado, facilmente poderíamos arranjar soluções ao nível das federações distritais para resolver este problema. Divisões (primeira, segunda, etc) em vez de séries poderia, facilmente, ser uma solução. A divisão atual (em divisões e posteriormente em séries) ainda traz este tipo de problemas. Os melhores na 1ª divisão, proporcionando mais competição para todos! Os excelentes debatiam-se com os excelentes, os bons com os bons, os medianos com os medianos. Melhor evolução para todos, porque competição entre expoentes qualitativos e acabar um jogo com 10-0 em nada é benéfico para qualquer uma das equipas!
                Por outro lado, poderíamos apontar algumas “culpas” aos maiores clubes formadores. É óbvio que os grandes contam com mais de 100 jogadores por escalão (equipa A, equipa B, equipas satélite,…), o que, acaba por retirar o talento a outros clubes e torna impossível qualquer equipa que não possua um nome marcado no futebol português competir a esse nível. 

                Por último, e não menos inquietante, a formação dos treinadores dos escalões de formação! Estes são, na minha opinião, os escalões onde os treinadores deveriam possuir maior formação, por estarem a ensinar a modalidade, por serem figuras para as crianças, pela forma como se vê muitos abordarem as crianças. E se há coisa que a maioria dos treinadores destes escalões não são é formados! Atenção, não digo que, são “menores” por não o serem, mas a grande maioria não faz ideia de como lidar com os jovens atletas nestas idades! O pai deste, o atleta que fez história no clube, o Tio Tone que acha que percebe de futebol e tudo o que sabe é que o objetivo principal é marcar golo, ainda vão sendo estes os treinadores escolhidos na grande parte dos clubes!

                Em suma, antes de esperarmos resultados esplendorosos da nossa formação, temos de fixar a quantidade de erros, de problemas que ainda se assiste no nosso futebol de formação! O futebol de formação não começa na equipa B das equipas principais, começa bem mais cedo, nos miúdos de 10 anos do clube da terra!